Nasci com osteogenese imperfecta, mais conhecida como ossos de vidro, já no nascimento tive 2 fraturas e complicações pulmonares, e fui para a UTI, onde disseram ao meus pais que eu teria no máximo 10 dias de vida, pois estaria respirando apenas por aparelhos, passou os dias e com um mês de internação fui para casa, com o diagnóstico de que sobreviveria apenas até no máximo de 10 a 15 anos. Fui para casa, com total zelo dos meus pais tratada como uma boneca de porcelana, pois me fraturava apenas no me mexer, perdi as contas das inúmeras fraturas que tive, sempre fui privada de proximidade para brincar com crianças pequenas, pois elas não entendiam o meu problema, e uma bola que batesse em mim, ou qualquer movimento brusco poderia me levar a fraturas ósseas. Meus pais eram caseiros em zona rural de sítios e minha mãe me carregava 8 KM para me levar semanalmente a AACD, o tempo passou, e eu precisava estudar, embora em casa, sempre tive por parte dos meus pais o ensino básico, foi com 12 anos que eles conseguiram um serviço no Educandário Dom Duarte, local onde ficavam crianças internas em medidas sócio educativas, ou órfãos, e meu pai eram quem tirava as folgas dos laristas que cuidavam dos pavilhões onde essas crianças moravam. Foi nessa escola que atendia os meninos que lá moravam, os filhos de funcionários e as crianças do bairro que tive meu contato aos 12 anos com a escola, comecei tarde os estudos, devido a dificuldade encontrada por morar em sitio, e foi nesse colégio internato que meus pais puderam ir trabalhar e assim me por numa escola. Fui muito bem aceita pelas crianças, embora tímida crescida em sitio, sozinha sem poder ter proximidade e brincar com outras crianças, foi dificultoso, não eles me aceitarem, mas eu me desvencilhar da timidez, mas minha surpresa foi grande, pois justo aqueles meninos a maioria sem pais, ou tendo que ficar naquele internato para que suas mães pudessem trabalhar, me ajudaram nesse processo de socialização, eles levavam meu lanche na sala, me faziam companhia, para que eu não me sentisse sozinha, os professores sempre carinhosos e me elogiavam muito por acharem que eu tinha um dom especial para redação.
O tempo passou fui estudar em outro município na minha 5 série, onde com a graça de Deus meus pais compraram a nossa própria casinha, e escolheram outros ramos para trabalhar, eu estava com 15 anos, fui bem aceita mais uma vez pelos colegas de sala, pelos professores, e logo fiz grandes amizades, onde minha mãe nem precisava me levar a escola minhas amigas vinham me buscar e trazer, era uma festa para elas me empurrar e brigavam entre si, para ver quem me levava, por ter ossos de vidro, não consigo tocar a cadeira nas ruas apenas fazia dentro de casa. Foi com 16 anos que tive minha ultima fratura, depois disso misteriosamente as coisas mudaram, porém muitas crises de pneumonia, asma, e com isso varias e inúmeras internações. Com meus 17 anos, estava já cansada de viver minha vida certinha, casa, escola, medo de me quebrar e resolvi parar, eu queria viver, sair com meus amigos, curtir a vida, coisa que meus pais não deixavam até certo período por medida de super proteção devido aos problemas de saúde, disse a eles, que eu preferia que se algo me acontecesse que eles ficassem feliz por saberem que eu morri fazendo o que quis, do que sabendo que fui infeliz, e privada de viver como todo mundo, e assim foi feito, passei a sair a noite para rodeios, para festas, baladas chegar no outro dia em casa, porem a surpresa foi que fui me fortalecendo, diminuíram as internações, me desenvolvi na socialização ainda mais, e me tornei uma outra Claudia, cheia de animo pela vida. Preconceito, bom não vivi diretamente ao ponto de me marcar na pele, a não ser por um caso amoroso, onde o preconceito imperou por parte da pessoa e da família dele que não me aceitou, na época sofri muito, tive depressão e foi ali que realmente me dei conta que eu era diferente, pois minha vida toda foi vivida no meio de pessoas normais, sem deficiência, nunca tive amigos com deficiência, os meus amigos sempre inventavam coisas que eu pudesse participar, nunca locais complicados sem acesso, e se não tinha me pegavam no colo e para mim estava tudo bem, sempre fui na boa com isso no meio dos meus, mas ao ter esse problema de origem sentimental, me deparei ali com esse fato e ai sim a ficha caiu SOU DIFERENTE.
A depressão foi um período complicado, para sair, me via me sentindo diferente e sem ninguém que fosse igual a mim, para me ensinar a viver esse mundo, pois sempre vivi o mundo dos normais, não conhecia o mundo que o preconceito estava me apresentando de ser diferente, e esse preconceito pegou em mim, pois eu comecei a dizer que não era normal, que meus amigos não gostavam de mim, que tinham pena, dó, que o tempo todo servi de peso para os meus pais, que nunca fui a filha que eles queriam. Fiz tratamento, mas isso não adiantava, eu precisei me aceitar para ai sim tudo mudar.... Conheci pessoas com deficiência nas redes sociais , passei a conhecer esse mundo que descobri que pertencia que é o mundo de reconhecer que tenho uma deficiência, nesse mundo quem me deu a estrada a percorrer, e me mostrou o caminho, foi uma pessoa que admiro muito TATIANA ROLIM, ao me presentear com seu livro Meu Andar sobre rodas, foi ali que percebi ta sou diferente mas e dai, minha vida seguiu até aqui e vai seguir sempre, tenho limitações mas posso fazer praticamente tudo, basta querer. Decidi então comprar minha cadeira motorizada, segui os conselhos da Tati, quis me tornar mais independente, sair na rua sem ser empurrada, ir a um shopping sozinha quando quiser, ir pra faculdade sozinha, pois decidi cursar uma faculdade tomei as rédeas de minha liberdade de uma certa maneira. Me tornei uma militante da causa das pessoas com deficiência, criei um grupo que é o minha deficiência não me limita, me liberta, onde tento sempre que posso mostrar que deficiência não é o fim que o que mata é a gente se aprisionar no preconceito que as pessoas nos direcionam, faço meus encontros inclusivos, e nunca mais dei asas a me deixar levar por preconceito, claro que sei que ele existe, que muita das vezes me olham torto, porem nunca baixo o olhar, olho de igual para igual e não levo desaforos para casa. Sou feliz, faço minha faculdade de Serviço Social, justamente por querer atuar na causa, futuramente penso numa pós quando terminar em psicologia ou jornalismo, e enfim vivo a vida, não apenas passo por ela. Ahhh!!! Esqueci de dizer no final, que o prazo dado da medicina se esgotou, estou indo para os meus 38 anos, cheia de alegria, animo e vontade de viver, nem os médicos entendem como superei a gravidade do meu problema.