quarta-feira, 26 de abril de 2017

Josélia Neves - A audiodescritora escolhida pelo Qatar...

Josélia Neves
Audiodescrever com os cinco sentidos

A portuguesa Josélia Neves faz proposta de audiodescrição a favor da expressividade, ao utilizar as emoções e a expressão e a sensorialidade

E se, no lugar de audiodescrever com objetividade e neutralidade, a proposta fosse uma audiodescrição com base na expressão e nas emoções? Essa será a provocação da oficina “Descrever arte com arte”, ministrada hoje (25), às 19h, pela professora portuguesa e audiodescritora Josélia Neves, compondo segundo dia de oficinas do 3º EIAD. Na entrevista abaixo, Josélia explica de que modo desenvolve esse tema, explica que a abordagem não desmerece a objetividade na AD e dá indicativos do futuro dessa técnica específica. Que tal adiantar um pouco o que estará na oficina?

 Hoje você vai ministrar a oficina “Descrever Arte com Arte”, propondo uma audiodescrição baseada na sensorialidade, pela experiência emocional. No entanto, quando se fala da audiodescrição, se fala muito na objetividade, na questão de ser o mais direto possível, sem adjetivos, etc. Como seria essa técnica?

JOSÉLIA NEVES: Eu compreendo a necessidade de ver objetividade na audiodescrição. No entanto, nada no mundo é objetivo. Quando nós estamos a falar em arte, seja a arte como pintura, escultura, as artes cênicas ou a natureza, é quase impossível olharmos pelas coisas sem as filtrarmos através das nossas emoções. Então, o audiodescritor dificilmente consegue criar uma barreira entre as suas próprias emoções e aquilo que descreve. Se o audiodescritor não se deixar emocionar por aquilo que descreve, jamais vai conseguir descrever. Portanto, a proposta que eu faço não é contra a objetividade, e, sim, a favor da expressividade, que é um pouco diferente da subjetividade. Não estou a a ver a interpretação por interpretação, estou a ver o olhar, e utilizar a língua portuguesa daquilo que tem de mais rico, na sua expressividade, apontando sempre aos sentimentos. Não basta olhar, não basta ouvir, é preciso cheirar, é preciso degustar, é preciso tocar, essencialmente, é preciso deixar-se tocar. Essa é a abordagem que hoje vou utilizar para explicar isso.

    Nesse processo, há algum tipo de técnica ou metodologia desenvolvida, ou é algo que você ainda está fazendo?

JOSÉLIA NEVES: Claro que estamos em evolução ainda.  A ideia de utilizar técnicas expressivas, eu já desenvolvo, há alguns cinco anos, através de um conceito chamado soundpainting, pintar com o som. Neste momento, esse conceito já está desenvolvido e já estamos a trabalhar em transcriação audiotáctil, em que nós transcriamos, traduzimos e recriamos a arte para ser ouvida através das palavras, áudio, e táctil, no sentido de ser tocada, mas a parte emocional, deixar-se tocar. Portanto, existem técnicas concretas que são precisamente o que eu irei abordar hoje no workshop.

    Além de você, alguns outros autores ou pesquisadores ou algum país em específico tem desenvolvido essa técnica?

JOSÉLIA NEVES: Vocês têm aqui Sandra Rosa, cuja tese tem a ver com audiodescrição mais expressiva. Não podemos dizer que é corrente portuguesa ou é corrente espanhola. Eu talvez diria que tem sido um processo um pouco solitário, tem sido algo que tenho desenvolvido um bocadinho em Portugal, agora no Qatar, estou a desenvolver lá também, e, curiosamente, a cultura árabe gosta da da componente expressiva. portanto, quem sabe se um dia vai ser um modo árabe de descrever. Para já, ainda está em desenvolvimento.

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