terça-feira, 19 de maio de 2015

Projeto RELATOS - "Quem é Gata de Rodas" por Ivone de Oliveira

A foto em um jardim mostra Ivone de Oliveira sob a luz do sol, sentada em uma cadeira de rodas com a perna esquerda cruzada sobre a outra. Ivone tem a pele clara, rosto oval, cabelos loiros e lisos até os ombros, nariz afilado e lábios médios. Ela usa óculos de sol com armação grande e quadrada, relógio preto no pulso esquerdo, blusa estampada em tons de lilás, azul e rosa, mini saia jeans e sapatos estilo boneca  azuis. Na lateral direita, em sentido vertical e letras rosas, lê-se: Gata de Rodas.

QUEM É GATA DE RODAS?
Eu sou a Ivone, uma mulher cadeirante, aos 6 meses de nascida tive Poliomelite que me deixou sequelas sendo uma   delas, a de me impossibilitar de andar. Minha infância foi marcada por idas ao médico e cirurgias. Apesar das dificuldades, foi também  uma infância de muitas brincadeiras com meus irmãos  e  primos. A Gatinha de Rodas foi uma criança alegre e sempre risonha. Na escola, iniciou o meu convívio social com outras crianças, foi super tranquilo,  não houve rejeição.  Os coleguinhas de sala de aula eram cuidadosos e prestativos comigo.  Sempre gostei de estudar e fazer amizade.

PRIMEIRO CONTATO COM O PRECONCEITO
Como nem tudo são flores, encontrei o meu primeiro espinho no caminho:  ao concluir  a  4º série do antigo ensino primário, a diretora não quis disponibilizar  uma sala de aula no andar térreo e disse a minha mãe que não ia  se responsabilizar por mim na escola. Sem o conhecimento dos meus direitos, minha mãe não denunciou a diretora na delegacia de ensino. Tive que me afastar da escola.  Quatro anos depois houve a substituição da diretora da escola e eu retornei aos estudos.  Ao concluir o primário, novamente tive que interromper os estudos, por diversos motivos: falta de companhante, doença em família etc.

GATA DE RODAS NA BUSCA PELA INDEPENDÊNCIA
Nunca fui de ficar parada, já que não dava para eu estudar, resolvi trabalhar informalmente no artesanato. Comecei a confeccionar roupas de crochê e bordados com pedrarias, atividade essa que exerci por muitos anos visando independência econômica para o  lazer e minha vaidade de mulher. Passando alguns anos meu irmão me presenteou com um computador. Além de me distrair, resolvi também procurar trabalho com carteira profissional registrada. Não demorou muito para que eu fosse contratada por uma conceituada empresa e lá estava eu inserida no mercado formal  de trabalho como Operadora de telemarketing. Agora trabalhando e conectada nas redes sociais, resolvi voltar a estudar, porém a falta de companhia ainda persistia.  Por obra do destino,  numa rede social eu conheci uma amiga enviada por Deus. Essa amiga ao saber  do meu sonho de concluir os meus estudos, tornou-se  os meus pés e com essa grande ajuda finalmente cheguei na faculdade. Hoje sou bacharel em Ciências Contábeis.

GATA DE RODAS NA REDE SOCIAL/ XÔ PRECONCEITO/AUTOESTIMA
Passeata e manifestação social: aprendi com meus amigos deficientes  da rede social  a lutar por direito a inclusão e  acessibilidade.
VISIBILIDADE: Mesmo diante das dificuldades e dependência de acompanhante a Gata de Rodas se joga no Carnaval, na praia, nos passeios, cinema, teatro etc. Na expectativa de motivar os demais deficientes a não desanimar com os obstáculos, não ter vergonha de sua deficiência e  ser  feliz do jeito que é...
Comunidade Gata de Rodas: a ideia da página Gata de Rodas surgiu a  princípio para que eu pudesse compartilhar as minhas experiências e desafios como uma mulher cadeirante, mas a ideia se expandiu e resolvi abranger as demais parcelas da sociedade que também sofrem com o preconceito, seja ela por ser deficiente, mulher, negro, gay, Indio,  pobre  e  etc.
 “A história ensina-nos que o homem não teria alcançado o possível se,   muitas vezes, não tivesse tentado o impossível.” (Max Weber)

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